(chuva) (relâmpagos) (trovões)
"Embora me falte uma lareira para criar um ambiente característico de "Lar doce lar", embora me falte coragem para levantar numa manhã de chuva e embora nem sempre eu me erga vitorioso perante minhas batalhas, sou da crença que nada melhor do que o vento frio e cortante para me colocar de volta no eixo certo. Eu fico estático, sentindo o gotejar em minha face, respirando e comparando a amplitude do universo à amplitude da alma humana. Coloco um do lado do outro, e vejo que nossas diferenças são, vistas de outro ângulo, nossas maiores semelhanças, somos vulcões, explodimos em ira, somos profundos iguais a um oceano, podemos ser cheios de vida, podemos nos tornar mórbidos iguais ao gelo.
Escuto cada gotejar, escuto o silvo das folhas sendo cortadas pela impetuosa ventania, e percebo que nesse mundo de adversidades somos todos um só. Tal e qual Werther, me dou conta de que o desentendimento, e a ignorância fazem mais mal ao mundo do que o "mal" em sua total essência. E me dou conta de que não há maldade e nem bondade, percebo que há pontos de vista, que nos levam a julgar, ação após ação. Seriam então todas as nossas lutas vagas de sentido? Ao menos paramos, em meio a chuva, e nos perguntamos aonde estamos? Ou quem somos? Ou oque faremos?
Nossas respostas não devem partir do nosso princípio de bem e mal. Nossas respostas devem surgir latejantes após uma análise dos dois horizontes, os dois lados da moeda. Quando paramos em meio à chuva e nos damos conta de que cada um de nós está no controle, o bem e o mal passam a não fazer diferença, não seria preciso criá-los. Estaríamos, por fim, "Além do bem e do mal", igual ao pensamento de Nietzsche. Teríamos superado a nossa própria essência, o nosso "ser" estaria ultrapassado perante tal concepção.
Porém, todos nós somos humanos. Justamente erramos por não haver o lado certo, sequer o errado, mas assim o qualificamos. Somos todos demasiadamente humanos. Precisaríamos nos reinventar, nos converter em cinzas para renascer do nosso próprio pó, é disso que precisamos. Parar na chuva às vezes."
Nesse momento, em meio a chuva, acordo dos meus devaneios e continuo a viagem.
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