Continuava a não passar bem, os calores eram mais frios, a surdez era indubitável e, todos falavam ao seu redor, sufucando-o, abafando o aspirar dos seus pulmões, sugando-lhe o resto de vida. A cena era sinistra, pálido, suado, envolto num lençol branco, que parecia premeditar o ato fúnebre que estava estampado em sua face. A cena, era um epitáfio em sí. O aposento, a lápide. Mas a mente, o espírito daquele homem, não estava ali, pois se preparava para avançar os séculos como a sombra mais pesarosa... e cheia de dores, que a humanidade já viu.
Tivera uma vida gloriosa, soubera crescer e superar a sí mesmo a cada passo, diziam que havia uma nova fé naqueles tempos, e que ele era seu profeta. Os papéis referentes à seu último trabalho jaziam pisoteados pelos transeuntes sobre o assoalho de madeira, junto à cama, tal qual o espírito, esses papéis voariam pelos séculos iluminado a visão dos cegos, conferindo audição aos surdos.
"Ah, no paraíso eu vou ouvir!"
Mais rápido agora, mais ofegante, a morte lhe é convidativa e tênue como uma irmã e uma sombra, querendo envolvê-lo num abraço terno e eterno. Pouco resta de sua mente agora, são poucos fragmentos que deixam o corpo inanimado e se descobrem nos céus, nas nuvens, em nós.
Como últimas palavras ele escolheu:
"Plaudite, amici, comedia finita est"
E foi seu último suspiro, no ano seguinte outro vulto que assombra a humanidade foi enterrado ao seu lado, não como amigos, mas como mestre e admirador.
In Memorian.
Beethoven e Franz Schubert.

Um comentário:
Muito lindo!
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