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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Andarilho

Vagava eu, pela noite escura qual breu
Remoendo dolorosos pensamentos
E, em nefastos instantes
Perante a lua brilhante
Notava apenas o semblante
De um passado que me esqueceu


Ora, quisera eu abandoná-lo completamente
Juntar de mim as partes soltas
Para que no próximo verão eu não lamente
Ou sequer sofra tais dores tolas


Vagava eu, por ermas e solitárias paisagens
Quando o brilho da lua fugiu de meu alento
E o sopro da noite tocava sinistros acordes
Tão fortes como um coral de mil vozes
Arrancando de meu peito o último contentamento
E encontrei-me só, após sombrias viagens

Pois, sob uma árvore divaguei o passo
Visto que ela, antecipando o abraço
Logo quando pus-me a devanear no espaço
Eis que ela chora, gotas de orvalho

Enfim, quando a lua por trás das nuvens escureceu a noite
E senti na pele o arrepio de um solene açoite
Ah, ajoelhei-me perante o velho carvalho
Perdoando as dores que me atormentavam
E dos meus olhos pingavam...
Gotas de orvalho.

domingo, 6 de novembro de 2011

Ao pé da cama

      Continuava a não passar bem, os calores eram mais frios, a surdez era indubitável e, todos falavam ao seu redor, sufucando-o, abafando o aspirar dos seus pulmões, sugando-lhe o resto de vida. A cena era sinistra, pálido, suado, envolto num lençol branco, que parecia premeditar o ato fúnebre que estava estampado em sua face. A cena, era um epitáfio em sí. O aposento, a lápide. Mas a mente, o espírito daquele homem, não estava ali, pois se preparava para avançar os séculos como a sombra mais pesarosa... e cheia de dores, que a humanidade já viu.

     Tivera uma vida gloriosa, soubera crescer e superar a sí mesmo a cada passo, diziam que havia uma nova fé naqueles tempos, e que ele era seu profeta. Os papéis referentes à seu último trabalho jaziam pisoteados pelos transeuntes sobre o assoalho de madeira, junto à cama, tal qual o espírito, esses papéis voariam pelos séculos iluminado a visão dos cegos, conferindo audição aos surdos.

"Ah, no paraíso eu vou ouvir!"

Mais rápido agora, mais ofegante, a morte lhe é convidativa e tênue como uma irmã e uma sombra, querendo envolvê-lo num abraço terno e eterno. Pouco resta de sua mente agora, são poucos fragmentos que deixam o corpo inanimado e se descobrem nos céus, nas nuvens, em nós.
Como últimas palavras ele escolheu:

"Plaudite, amici, comedia finita est"

E foi seu último suspiro, no ano seguinte outro vulto que assombra a humanidade foi enterrado ao seu lado, não como amigos, mas como mestre e admirador.

In Memorian.
Beethoven e Franz Schubert.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Autobiografia

Acordou e pensou
Pensou e andou
Andou e viveu
Viveu e morreu
Ponto.